domingo, 28 de março de 2010

Transformação

Há um ano acabava a parceria de 25 anos entre o Flamengo e a Petrobrás. Se não me engano, a mais longa da história do futebol mundial. As marcas da empresa já estavam arraigadas no subconsciente do rubro-negro justamente pela presença nos uniformes diversos do clube por tanto tempo. Mas também sabemos que a cada renovação ressurgia o parto não só da negociação em si, mas também da obtenção das certidões negativas necessárias para a liberação dos valores negociados junto à Estatal.


Com questionáveis gestões financeiras subsequentes, as dívidas se acumulavam ano após ano e a apresentação das certidões era sempre um tormento. No fim de cada período acabava a novela e a renovação acontecia. De um lado, a Petrobras afirmando que preferia renovar com o clube por conta da parceria iniciada em 1984 e do outro lado os dirigentes rubro-negros que adoravam alardear outros possíveis interessados mas sempre acabavam aceitando os termos da estatal. Era um casamento agonizante e seu fim, apesar de previsível, me causou arrepios. Se com um parceiro deste nível, os dirigentes rubro-negros já faziam uma super lambança nas finanças do clube, o que seria da Nação sem ele? Ano após ano, as dividas só aumentavam e todo início de temporada ouvíamos a mesma lenga-lenga de sempre de que, no ano por vir, o orçamento seria enxugado e novas fontes de renda estavam sendo orquestradas.


Minha preocupação estava justamente no que eu acreditava ser uma total incapacidade dos dirigentes em conseguir obter do zero um novo contrato de patrocínio. O cenário não era nada animador. Havíamos sido eliminados pelo Resende nas semifinais da Taça Guanabara e vimos o Botafogo levantar a taça. Márcio Braga estava afastado e o Presidente em exercício, o Sr. Delair Dumbrosck era o próprio ponto de interrogação. Mas São Judas é poderoso e o então “tal Delair” deve ser dos seus protegidos preferidos. Antes mesmo da definição do novo patrocinador – que só aconteceria no final de maio – venceríamos a Taça Rio e nos tornaríamos hegemônicos no Carioca com o 31º título Estadual (o sétimo em dez anos). O Presidente em exercício bancou a vinda de jogadores experientes como Maldonado e Álvaro, provocou um racha histórico na diretoria do Clube quando resolveu negociar a volta do Pet e efetivou o nosso querido Andrade. Muita coisa ao mesmo tempo e minha cabeça parecia que ia explodir.


O resultado desta “aventura”, todo o Brasil conhece: novas parcerias adquiridas, contratos extremamente favoráveis, contas devidamente saneadas e o Hexa-Campeonato Brasileiro. A lição que aprendi: nunca deixar de acreditar que o Flamengo é maior que tudo e que as oportunidades só aparecem para quem está com olhos abertos para enxergá-las além da sua área de conforto. Quebra de paradigmas também acontecem no futebol.


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Não acho que essa coisa de enrolar a renovação do Pet faça bem ao grupo. Ele já dá entrevistas sem disfarçar a insatisfação e não consigo ver nenhum benefício nisso. Mas lembram o que eu pedia em meu primeiro texto aqui no Magia? Cadê o pulso forte para dizer aos envolvidos que o Flamengo é mais importante do que o orgulho de cada um? Cadê?


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Não sou a favor dessa coisa de entregar o jogo de hoje contra o América para prejudicar não sei quem. Repito: o Flamengo é maior que tudo e não deve pautar suas decisões nas desventuras dos outros. Simples assim. Se a prioridade é a Libertadores, tudo bem, mas o grupo precisa estar melhor organizado até o próximo jogo semana que vem e o confronto com um empolgado América é uma ótima oportunidade de acertar as deficiências. Vai pra cima deles, Mengão!


Nota: Publicado originalmente no Magia Rubro Negra.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Paixão

pai.xão
sf (lat passione) 1 Sentimento forte, como o amor, o ódio etc. 2 Movimento impetuoso da alma para o bem ou para o mal. 3 Mais comumente paixão designa amor, atração de um sexo pelo outro. 4 Gosto muito vivo, acentuada predileção por alguma coisa. 5 A coisa, o objeto dessa predileção. 6 Parcialidade, prevenção pró ou contra alguma coisa. 7 Desgosto, mágoa, sofrimento prolongado. 8 Os tormentos padecidos por Cristo ou pelos mártires
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Essa é a definição que encontramos no bom e velho Michaellis. Mas eu não estou aqui para filosofar. A coisa é bem mais simples e muito mas objetiva: neste espaço paixão será sempre sinônimo de Flamengo. Sou rubro-negra desde que me entendo por gente. É uma relação típica dos apaixonados: gratuita, intensa e impulsiva. Neste exato momento, estou respirando profundamente, como quem acaba de sair de uma briga com o amado. Mas com a certeza de que em breve, muito breve, vai ficar tudo bem.


E essa certeza vem do fato de que o rubro-negro sabe que tudo no Flamengo é grandioso. Tudo no Flamengo é multiplicado aos milhões. Tudo no Flamengo é notícia. A Nação assusta, incomoda, provoca e impera. Tudo isso faz do Flamengo o maior adversário do… Flamengo! Nada é simples e nada é fácil para o Mengão. Cada jogo é uma batalha sangrenta. Dentro e fora de campo. Mas onde está a novidade? O que o Flamengo precisa hoje é focar apenas nas quatro linhas. O time tem uma das bases mais consistentes do país, ninguém ali é criança mas o grupo continua se deixando abalar por picuinhas extra-campo. Cadê o foco, minha gente? Parece que é a primeira vez que enfrentamos o resto do mundo!


Sinto falta da tranquilidade, humildade e um tanto de ouasadia que mostramos no fim de 2009. Somos Hexa-Campeões mas estamos perdendo o rótulo “time a ser batido”. O ano já começou e o ritmo ainda é de pré-temporada. Cadê a seriedade? Cadê o coração na ponta da chuteira? Cadê aquele Andrade que é capaz de virar o jogo no intervalo? Cadê a Presidente para chamar a responsabilidade e colocar o Flamengo acima de tudo, seja de jogadores, comissão técnica e dirigentes? Esse braço forte está fazendo falta. E espero que ele se apresente bem rápido.


Vai ser um desafio e tanto acompanhar essa trajetória aqui com vocês. Só posso garantir que aqui vai ter sempre 100% coração, compartilhando opiniões, contando casos, exaltando os guerreiros e cornetando os pipoqueiros. Vou tentar estar à altura da Nação, sem com fanatismo, mas com toda paixão que enche meu peito. E vai ser mais do que um prazer, será uma honra dividir essa paixão com vocês.


Nota: Publicado originalmente no Magia Rubro Negra.