quarta-feira, 23 de março de 2011

O que esperar de um treinador?

Faz parte do papel do torcedor - por menos apaixonado que seja - exigir sempre o melhor. É proibido perder. É intolerável fazer corpo mole. É imperdoável não sangrar em campo junto com o coração do torcedor na arquibancada. Somos os clientes do mundo do futebol. Visando o nosso quinhão, patrocinadores fecham contratos milionários e faz-se o espetáculo mundo a fora. Mas será que temos sempre razão?


Não, não acreditem que me excluo do alvo dessas reflexões. Faço sim parte da massa impaciente por sequências enormes e ininterruptas de vitórias esmagadoramente convincentes. Também sou daquelas que quer shows, passes de letra, dribles desconcertantes e goleadas históricas todos os domingos e quartas-feiras, sem exceção. Mesmo reconhecendo que não existe tal mar de rosas, quando uma partida não corresponde às nossas expectativas precisamos de um culpado. Pode ser o juiz, um jogador ou mesmo o técnico.


O que quero entender é: até onde é razoável para a torcida ter (ou não) paciência. Ou melhor, qual é o pecado mortal do treinador profissional de futebol? Ainda, qual o prazo de validade de um técnico? Enquanto um jogador em má fase vai para o banco ou para a geladeira, ao técnico não se permite tal privilégio: é sumariamente descartado. Além de ter equilíbrio emocional e conhecimentos técnicos e táticos, o técnico precisa ser disciplinador, motivador, líder e - além de tudo isso - ainda lidar com a pressão por resultados imediatos. Essa pressão vem de todos os lados, da diretoria, dos patrocinadores, da mídia e da torcida. No caso da mídia e da torcida, forma-se um ciclo sem fim que acaba com o sono dos treinadores: a mídia que quer ou precisa vender conteúdo sempre e a torcida, que precisa da mídia para "acessar" os bastidores do seu clube. Um torcedor apaixonado, apressado e desatento tira suas conclusões ao ler apenas a primeira página dos jornais na lateral da banca a caminho do trabalho. Olha o estrago feito. Não joguem pedras: não estou dizendo que todo torcedor é assim, mas esse perfil existe sim. Alguns de vocês vão se lembrar de um comercial da da W/Brasil para a Folha que dizia: "É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade". Desconsiderem o veículo em si e reflitam sobre essa mensagem. E é disso que nós temos sempre que nos lembrar. Muitas vezes é conveniente a um veículo de mídia, expor apenas uma face da verdade.


Estamos aqui para falar de Flamengo. Tudo do Flamengo vende. Temos um dos jogadores mais caros do mundo e um dos técnicos mais caros do Brasil. Somos bombardeados com informações vindas das mais diversas fontes, confiáveis e nem tanto, e devemos filtrar todas com bom senso. Não vencemos os dois últimos jogos da Taça Rio e já se fala em crise. O destaque de todos é praticamente o mesmo: o Bonde do Flamengo freiou e o time não ganha há dois jogos. Convenientemente deixam de dizer que são três empates em quinze jogosnenhuma derrota no período, que o time está classificado para a final do Carioca, que são 27 gols pró e 8 contra e a vitória sobre o Fortaleza na semana passada classificando o Mengão para as Oitavas da Copa do Brasil sem partida de volta foi completamente esquecida.


Vamos cobrar do Luxa? Sim! Ele tem experiência e ganha muito bem para treinar o Mais Querido, mas vamos fazer isso tentando não nos deixar influenciar por quem quer vender jornal e instaurar o pânico generalizado porque acredita que só o drama e a tragédia dão audiência. Para mim, Luxa peca por sua baixíssima reatividade. Mas o que esperar de um treinador? Ele deveria ser o estrategista (e não duvido que ele o seja). Deveria estudar o comportamento e o rendimento dos jogadores em campo e acertar o time com as alterações adequadas em tempo de surtir efeito. Entre uma partida e outra, deveria ainda usar toda a tecnologia disponível para estudar os principais erros e acertos da equipe para elaborar táticas que possam ser aplicadas o mais rápido possível, de preferência no jogo seguinte alcançando assim progressos sucessivos. Mas não tem sido assim, aparentemente insistindo nos mesmos erros. Ainda dá tempo de acertar porque o elenco está comprometido (nem sempre eficiente, veja Deivid e Egidio, mas comprometido com certeza) e unido e tais características são fundamentais para uma temporada vitoriosa. Por saber que ainda dá tempo de acerto é que sigo confiante de que, em 2011, é tudo nosso!




Nota: Publicado originalmente no Magia Rubro Negra.

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