quinta-feira, 22 de abril de 2010

Acefalia

Imagina a cena: um grupo de jovens fortes e saudáveis, num barco perfeito, remando um para cada lado. Ou o barco está sem comando e cada um rema para um lado porque acha que pode, assim, tirar o barco do lugar, ou tem comandante demais que faz com que os remadores fiquem completamente perdidos e remem bravamente sem direção específica. Resultado: ninguém sai do lugar. E o grupo de remadores fica exposto assim aos caprichos da natureza selvagem à sua volta: passáros atacando o grupo, correnteza, chuva, o desgaste do próprio barco, etc. Para piorar a cena, uma cachoeira conhecida bem ali na frente. É uma metáfora dramática? Sim, mas não tem Poliana que resista a um jogo como o de ontem.


Preciso mesmo identificar todos os personagens desta cena? Acho que todo rubro-negro já sabe exatamente do que estou falando. O grupo corre desesperadamente em campo sem a menor  orientação estratégia. Sim, porque fazer chuveirinho na área adversária não é estratégia, é desespero. Comando tem. Até demais. Todo mundo berra e ninguém tem autoridade para colocar as coisas em seus devidos lugares. E ainda tiram a autoridade de quem tem deveria tê-la. A diretoria precisa resolver suas pendengas internamente. Estão dando muita trela para a imprensa deitar e rolar. E dentro de campo, o grupo corre para compensar. Para mostrar que está unido. Que não abandonou a raça. Sem direção, sem orientação, repito, não vão a lugar algum.


Marcos Braz não fez mais nada além de abastecer estas crises. Gostava dele. Mas virou um fanfarrão cheio de frases de efeito. A Presidente ajeita os aspectos administrativos do clube mas parece ser do clube do “tá tudo bem, deixa as crianças se entenderem, amor…” A diretoria do Flamengo me causou a maior vergonha alheia de todos os tempos com essa palhaçada de “vai rola demissão a qualquer momento, é só esperar”. Ridículos. Esqueceram que têm a missão mor de zelar dO Mais Querido, dos seus interesses e do seu patrimônio e, em vez disso, abrem o tanque de tubarões. Isso é inaceitável. Do Andrade eu não tenho o que falar. Gosto do cara e acho que ele não merece ser o bode expiatório desta situação. Perdeu a autoridade, “o conceito” por causa da ingerência da diretoria. Fato. O elenco está acéfalo. Bruno não é líder. Nunca foi. É um garoto mimado que acha que a torcida não entende de futebol e mulher pode apanhar de vez em quando. Não se parece em nada com Fábio Luciano (isso para mencionar apenas o último capitão). Adriano briga com o mundo e retribui sisudo o apoio incondicional de uma torcida que em nenhum momento questionou seus privilégios. Wagner Love, Léo Moura, Maldonado, David, ou seja, os mais competentes (ou comprometidos ou profissionais, chamem como quiser) se matam para compensar a falta de ineficiência dos seus pares. Cada um que faz uma partida brilhante tem um equivalente de atuação pífia, como Juan e Vinícius Pacheco. Isso não é time. Isso é um grupo de funcionários que convivem uns com os outros durante o horário do expediente.


Sobre as vaias e xingamentos, querem que a torcida reaja como? Em silêncio? Não sou a favor das vaias, mas o que mais vai ser necessário para que os responsáveis vejam que algo está muito errado? Falta liderança dentro e fora de campo. Falta honrar o Manto e a história do Flamengo. Aparentemente só a torcida quer a Libertadores (convenhamos que 35000 mil presentes em pleno feriadão com os preços dos ingressos no Aconcágua é de se respeitar). Dentro do clube, todos se esqueceram de que essa era para ser a competição mais importante do ano. Nem vou falar que tanto se alardeou que essa seria a Libertadores mais fácil de todos os tempos. Mas ainda temos chance. Yeah, legal. E depois? Vamos ser atropelados pelo Corínthians com quantos gols do Gordo para nos humilhar no Maracanã?


Quem vai fazer alguma coisa? E rápido. Com ou sem Libertadores.


Nota: Publicado originalmente no Magia Rubro Negra.

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