terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Grandeza do Flamengo

“Molas anda a tomar o Flamengo para a graça dos seus bonecos. E a mim, para um motivo de comovedora solicitude às dores do meu clube. O fato é que o Flamengo anda a sofrer. Mas acredito que não sofra de doenças que possam levá-lo a estado de gravidade.
O que existe no nosso clube é apenas um acidente da vida. O nosso time andou a levar suas cargas de pau, a merecer, de fato, surras de adversários sem grande credencial. Acredito que tudo se resolva bem. Hílton Santos, apesar de todos os seus gestos ditatoriais, é, no fundo, um flamengo de bom coração. E, para ser um bom flamengo, primeiro que tudo, carece o cidadão de ser um homem do povo, capaz de gestos democráticos, sem atitudes de mando agressivo.
O Flamengo é da paixão do povo. E aí está a sua grandeza.” (José Lins do Rego)




Imagem: http://baptistao.zip.net




Zélins foi o primeiro grande escritor brasileiro a escrever sistematicamente sobre futebol num tempo em que os intelectuais achavam que o velho esporte bretão era indigno de sua literatura. Quisera eu ter um décimo do talento e da clareza do moço para, nesse momento, saber o que lhes dizer. Resolvi recorrer à pequena crônica de 25 de maio de 1946, transcrita acima. Deixo livre à reflexão de cada um de vocês as palavras deste paraibano, “cronista apaixonado, nada isento, despudoradamente comprometido com sua paixão pelo Flamengo” – nas palavras de João Máximo. Queremos seriedade e profissionalismo, sim, mas tais predicados isolados não funcionam no Flamengo. O Flamengo precisa de bons homens do povo, bons homens de bom coração e, consequentemente, de bons flamengos. Dentro e fora dos gramados. Homens e mulheres que, à despeito de sua classe social, nunca se esqueçam a essência do Flamengo. Do ser Flamengo. Andamos a sofrer, como andávamos em 1946 e, da mesma forma, a cura está em nossas mãos. Ou em nossos corações.


Nota: Publicado originalmente no Magia Rubro Negra.

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